Cegonha

A cegonha é, possivelmente, um dos símbolos mais queridos pelas culturas do Ocidente, principalmente por causa da ligação com o bebê atribuída a ela, ideia que foi gerada a partir de hábitos próprios dessas aves.

Ou, pelo menos, essa é a história da cegonha mais conhecida popularmente (até explorada recentemente numa animação, “Cegonhas – A história que não te contaram”, de 2016), mas você sabia que há também significados e histórias mais sombrios dentro da simbologia da cegonha?

Se quiser conferir estas e outras coisas sobre o significado da cegonha, continue a leitura!

O que é cegonha

Existem cerca de 18 espécies de cegonha que vivem na Europa, África e Oriente Médio. Nas Américas, espécies como o íbis (guará), jaburu, flamingo, garça e abutre são representantes da mesma família, Ciconiidae. Ela tem por volta de 1m e pesa 3kg, e se alimenta de pequenos vertebrados. A espécie que supostamente entrega bebês é a cegonha-branca. Normalmente, elas não têm medo dos seres humanos, então é possível observá-las à vontade.

Faz-se importante destacar a cegonha bico-de-sapato, assim chamada porque seu bico lembra um sapato. Apesar do nome popular, ela não é uma cegonha, é a única representante da sua família, aBalaenicipitidae.

Natural da região que vai do Sudão à Zâmbia, na África, ela atualmente está em risco de extinção (há menos de 10.000 indivíduos vivos). Além da devastação do seu hábitat natural, pode ser caçada tanto para alimentação como pela superstição de muitos fazendeiros locais de que é um bicho que dá azar, principalmente se rondar por perto das suas propriedades.

Qual o significado da cegonha?

A origem da cegonha como uma meiga entregadora de bebês começou provavelmente no norte da Europa (Escandinávia, Alemanha, Holanda). Estes países ficam no hemisfério norte, onde o solstício de verão acontece por volta do dia 22 de junho, data que marca o início do verão por lá.

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Isso é importante porque as cegonhas são aves que migram no outono (setembro/outubro) em busca de regiões mais quentes (que encontram mais para o sul da Europa e norte da África) e voltam na primavera, o que simbolicamente também se relaciona com um despertar da natureza depois de seu “recolhimento” no inverno. Portanto, elas voltam às suas regiões originais entre abril e maio.

Sendo o solstício de verão, pelo menos em épocas mais antigas, motivo para festejar a fertilidade, era costume que muitas pessoas se casassem por volta dessa data, portanto os filhos desses casais nasciam exatamente entre abril e maio, ou seja: foram as cegonhas que trouxeram os bebês – está sempre foi uma das explicações para crianças que perguntavam de onde os irmãozinhos vieram de repente.

Esta tradição começou a se popularizar fora dessas regiões com o conto “As Cegonhas”, de Hans Christian Andersen, em que as cegonhas são mostradas tirando os bebês de uma lagoa. Em outras versões populares, eles podem ser encontrados em cavernas específicas, chamadas “Cavernas dos Bebês”, ou em rochas onde são “chocados” ou postos para secar depois de tirados do mar. Também teria sido nessas regiões que surgiu o costume de se deixar guloseimas à janela, principalmente doces, para dizer às cegonhas que aquela casa estava aberta para a chegada de um bebê.

Além disso, a cegonha também é associada:

  • À pureza: por causa da sua cor branca.
  • À piedade filial: pela crença de que cuida dos pais quando estão velhinhos, dando-lhes comida. Na Grécia e Roma antigas, havia leis com o nome dela obrigando a que os filhos cuidassem dos pais quando estes envelhecessem. Na verdade, o comportamento delas de cuidar dos filhos, mesmo depois que eles já buscam alimento por si mesmos, pode ter sido confundido com os filhotes cuidando dos mais velhos.
  • À fidelidade conjugal e amor ao ninho: esta história pode ter surgido porque, ao voltarem da migração anual, as cegonhas sempre retornam aos ninhos que fizeram, muitas vezes em cima dos telhados das casas. E, segundo os observadores do seu comportamento, quando ela escolhe um parceiro, só se acasala com ele. No entanto, como elas sempre acabam voltando aos mesmos lugares, a verdade é que encontram sempre os mesmos parceiros, com os quais se acasalam.
  • A uma atitude filosófica: por causa da “postura contemplativa” que muitas vezes assume, apoiada numa perna só, como o flamingo.
  • À criatividade: pois, ao contrário de outras aves, a cegonha não consegue cantar; portanto, se comunica por danças e gloterando (batendo o bico). Também, devido ao fato de migrar, pode ser vista como símbolo de novas ideias e coragem para colocá-las em prática.
  • À longevidade e até imortalidade: segundo algumas lendas, ela pode viver por séculos, inclusive sem se alimentar.
  • À inimizade com o diabo: por matar cobras e insetos que vivem na lama, que, segundo antigas crenças, atraíam as almas dos mortos para si. Portanto, ela também teria uma ligação com os espíritos.
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O outro lado da simbologia da cegonha

A Bíblia já a colocava entre os animais impuros, ou seja, os que não poderiam ser comidos pelos israelitas. Segundo uma lenda polonesa, enquanto as penas brancas da cegonha-branca eram um presente de Deus, suas penas pretas eram uma lembrança do Diabo.

Na Grécia Antiga, curiosamente, ela foi associada ao sequestro de crianças. Também corriam histórias, em países como a Alemanha, de que, por vingança contra pecados dos pais, a cegonha podia deixar a criança que estivesse carregando cair durante o voo, provocando-lhe defeitos físicos ou até mesmo a morte – ou seja, para quem acreditava nisso, uma criança que nascesse com alguma dessas condições denunciava alguma culpa dos seus progenitores. Uma coisa que a cegonha realmente faz é matar seus filhotes em tempos de penúria.

Talvez ninguém tenha ido tão longe na negatividade da cegonha quanto povos que viviam no norte da África, principalmente na região da Etiópia, para quem o fato de as cegonhas se reunirem na chamada “Noite da Cegonha” para matar membros que retardaram a viagem de migração dava o direito de matar crianças deficientes ou com doenças incuráveis – se os pais fizessem isso nessa noite, podiam contar com a cobertura de todos para seu crime. Os corpos das crianças depois eram jogados nas mesmas florestas onde jaziam as cegonhas mortas.

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Em outras palavras, o símbolo da cegonha é dúbio, pois se associa tanto ao direito à vida quanto ao (muito controverso) direito de matar crianças.